terça-feira, 26 de julho de 2011

DIA DOS AVÓS


Há um período em que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados.
Crescem sem pedir licença à vida. Mas não crescem todos os dias de igual maneira. Crescem de repente.
Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura. Onde é que andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu?
Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços e o primeiro uniforme do maternal? E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros, principalmente com os erros que esperamos não se repitam.
Não mais os pegaremos nas portas das discotecas e das festas. Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judôSaíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas.
Devíamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer. Não os levamos suficientemente ao Play center, ao Shopping. Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo nosso afeto. 
No princípio subiam a serra ou iam à casa da praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhos. Sim, haviam as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chicletes e cantorias sem fim.
Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e rezando muito (nessa hora, se a gente tinha desaprendido, reaprende a rezar), para que eles acertem nas escolhas em busca de felicidade. E que a conquistem do modo mais completo possível.
O jeito é esperar: qualquer hora podem nos dar netos (e, quem os tem sabe o quanto é maravilhoso). O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco.Por isso os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável carinho.
Os netos são a última oportunidade de re-editar o nosso afeto. Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam. 
Aprendemos a ser filhos depois que somos pais e só aprendemos a ser pais depois que somos avós.
(Affonso Romano de Sant'anna - trechos).

quarta-feira, 20 de julho de 2011

renascimento - começar de novo


Começar de novo

(Ivan Lins e Victor Martins)
Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido
Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido

Sem as suas garras sempre tão seguras
Sem o teu fantasma, sem tua moldura
Sem suas escoras, sem o teu domínio
Sem tuas esporas, sem o teu fascínio
Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena já ter te esquecido
Começar de novo                                                              



sexta-feira, 1 de julho de 2011

Meu Poema Teu (Cado Selbach)




Já não construo disfarces ou personagens no espelho

Pro roteiro adaptado da comédia dos meus dias

Tenho saido de casa vestido só de verdades

Talvez por certa arrogância e a recusa de esconder-me



Só que isso de jogar-se de penhascos em palavras

Inunda todas as cenas de absolutas sentenças

E em meu ar de indiferença de alguém nunca indiferente

Vivo em meu laboratório dos afetos controlados



E quando posso navego pra ilha da minha verdade

Que mesmo tornada instante sustenta o fio dos meus dias

Onde ando em cordas bambas sobre a rede dos amores

E em arenas de leões que se acalmam com cantigas



E às vezes cavo poemas no solo de meus segredos

Que testemunham honestos meus persistentes ensaios

E querem que sejas cúmplice do meu mapa de viagens

Já que a horda dos poetas é a legião das solidões



E caso estejas atento prum certo tom angustiado

É provável que um dos homens que habitem em teu peito

Reconheça nesses versos que nasceram por vontade

O fel das próprias palavras e o doce ainda guardado.

De: Cado Selbach..


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